Inovar não significa necessariamente criar ou implementar ideias ou tecnologias absolutamente disruptivas (ou inovações disruptivas). Essas sim, certamente são inovações. Mas além delas, podemos ter melhorias, inovações incrementais e inovações radicais. Melhorar um processo que traga melhorias e que gere valor mesmo que para um grupo pequeno de pessoas, também pode ser considerado inovação. E são essas pequenas inovações que somadas, podem trazem um valor expressivo para a empresa como um todo.
Trataremos dos tipos de inovação em outro artigo. Aqui, vamos falar sobre uma coisa que antecede a inovação: o ambiente onde ela acontece. Ou deixa de acontecer. E principalmente, derrubar alguns “mitos”, pois a cultura de inovação também tem seus desafios!!!
Cultura da Organização
Mas quando a pergunta passa para: “Você abriria mão de um ambiente totalmente amistoso e familiar?” Aí a resposta tende a ser… “NÃO”. E aí reside um ponto importante: ambientes inovadores precisam ser ambientes seguros para as críticas. Um ambiente seguro requer que as relações sejam ABSOLUTAMENTE francas. As críticas (desde que não sejam direcionadas ao indivíduo, e sim a sua ideia) são absolutamente importantes e devem fazer parte do processo de aprendizagem.

Empresas reconhecidamente inovadoras criam um ambiente genuíno de sinceridade. Não esperam os famosos ciclos de feedback para estimular o que está sendo feito de maneira esperada, nem para corrigir o que precisa ser mudado. Outro exemplo disso, está no livro “Empatia Assertiva”, de Kim Scott, ex-executiva do Google e da Apple.
Empresas inovadoras também são referências no trabalho em equipe. É absolutamente natural pedir e oferecer de forma genuína, ajuda para executar as atividades que vão fazer para que a empresa (e não um indivíduo específico) atinja os seus objetivos. É também natural saber ouvir e ponderar opiniões contrárias, mas responsabilizar-se individualmente pelas suas ações. Um ambiente inovador pressupõe autonomia, mas que por sua vez levará a liberdade com responsabilidade, sem jamais perder o senso de responsabilidade coletivo.
AUTONOMIA > LIBERDADE > RESPONSABILIDADE > SENSO DE RESPONSABILIDADE COLETIVO
Outro enorme desafio tem a ver com a falsa dicotomia citada no início do artigo entre inovação e tolerância ao erro. Talvez um dos traços mais propagados no mundo corporativo quando falamos de cultura de inovação, é o que trata da importância do erro. Daí surgem as famosas frases de efeito: “errar rápido e acertar rápido”, “errar bastante e acertar gigante”, “falhe rápido e aprenda mais rápido ainda” e por aí vai. Nenhum problema com as frases em si. O problema é quando as empresas permitem que elas podem se tornar justificativas para qualquer falha que aconteça, inclusive nas atividades rotineiras.
Quando pesquisamos as empresas que implementaram com sucesso uma cultura de inovação, percebemos uma característica em comum: em nenhuma delas a tolerância ao erro, significa tolerância com a incompetência (que simplesmente significa inabilidade para desempenhar a atividade para a qual alguém foi contratado).
Como referência e ilustração, em seu livro “A regra é não ter regras”, Reed Hastings (Co-fundador e Presidente da Netflix), fala sobre os passos para uma cultura de liberdade com responsabilidade. E deixa claro o primeiro deles: desenvolva a densidade de talento, criando uma força de trabalho de alto desempenho, onde o desempenho razoável não é suficiente.
Uma coisa é ser tolerante ao erro, outra coisa é ser complacente com a incompetência. Um ambiente de experimentação exige muita disciplina e comprometido com as iniciativas. Além disso, os erros num ambiente de inovação precisam gerar aprendizagem. É fundamental corrigir rápido e aprender com as falhas. Por mais paradoxal que pareça, a disciplina é a principal aliada da inovação.
Procrastinação, negligência, gestão inadequada e outros fatores constituem barreiras significativas à inovação. E em alguns casos, esses são fatores que fazem parte da cultura organizacional (imaginem se a inovação vai acontecer num ambiente como esse?).
O penúltimo desafio que cito aqui possui relação direta com a cultura do feedback: para trabalhar num ambiente de inovação onde você seja encorajado a apresentar suas ideias, requer que as pessoas coletem dados, testem suas ideias, construam análises e argumentos sobre como suas ideias irão gerar valor para o negócio. Isso é fundamental! O problema é que nem todas as pessoas estão dispostas a isso.
Por último, e não menos importante, precisamos falar sobre o papel dos líderes na construção de um ambiente propício à inovação. Alguns se ressentem de que a “empresa é muito grande” ou “não tem a cultura de inovação”, como se eles (líderes) fossem um agente absolutamente externo dessa equação.
Atuar numa cultura de inovação é muito mais do que trabalhar num lugar onde você pode dar as (suas) boas ideias e fazer uma pausa para o vídeo game. Como vimos, um ambiente inovador não se constrói da noite para o dia. Mas precisa de um começo. Você líder, já começou esse processo na sua (grande ou pequena) equipe? Afinal, grandes correntes são feitas de pequenos elos.
Ah, e nada contra o vídeo game!!